Estavam-se a
esquecer de um pormenor importante: no meio desta história, sem pés nem cabeça,
onde é que a minha família, eu, e os problemas que apareceram do nada se
encaixavam?
Pois, era
esta a explicação que eu estava à espera. Na minha situação, a última coisa que
me apetecia fazer era ouvir uma história estranha, debaixo de terra.
Mas,
finalmente chegaram à parte importante.
Tudo começou pelo princípio. Ao início, eles aperceberam-se que eu
estava interessada em saber mais sobre a casa, a tentar perceber o que se
passava. Sentiram-se ameaçados, porque havia alguém que desconfiava do que
andavam a fazer.
Quando
andava a tentar infiltrar-me na casa, na realidade consegui lá entrar e
procurar por evidências em cada uma das divisões. Pelo que eu me lembro, nunca
cheguei a passar da sala e a única coisa estranha que presenciei, para além das
duas estranhas figuras que estavam à minha frente, tinham sido barulhos
estranhos vindos da cave, quando os visitei durante a mudança.
Esta era a
minha versão dos acontecimentos, a deles era diferente. Depois de terem
recusado os meus serviços como jardineira, decidi voltar lá no dia seguinte e
entrar na casa sem que ninguém percebesse. Visitei todas as divisões e revistei
todas as gavetas. Num dos quartos, o mesmo quarto por onde tinha entrado para
os túneis, encontrei, numa caixa de madeira. Esta caixa, tinha um aspeto acabado,
não parecia ter qualquer valor, algo que chamava à atenção era uma inscrição em
latim. Na tampa estava escrito: “Tempus
mutatur”. Achei curioso, e como não poderia deixar de ser, abria-a. E lá
estava, um relógio de bolso sem ponteiros.
Nesse exacto
momento, ouvi passos no corredor e escondi-me debaixo da cama, esperando assim,
que ninguém me encontrasse. Quando tive oportunidade voltei para casa, e com
muita sorte consegui sair daquele lugar, sem que ninguém tivesse dado pela
minha presença.
Tudo piorou
quando cheguei a casa e percebi que, desastradamente, tinha colocado o relógio
no meu bolso.
Entretanto,
os vigaristas da casa ao lado tinham dado pela falta do precioso relógio.
Apesar de saberem que as coisas não iriam correr bem para o lado deles, tiveram
de avisar Elijah. Assim que soube, moveu vales e montanhas para tentar
descobrir quem o tinha levado.
Acabou por
descobrir que tinha sido eu, o que não iria ficar barato. Recuperou o relógio e
estava pronto para me dar uma lição. Brincou com o meu passado, fazendo
desaparecer o meu pai, e depois, fez-me desaparecer a mim. Mas certificou-se
que ficava a assistir a um mundo, onde nunca poderia intervir, como se fosse
uma alma perdida a vaguear pelas ruas.
Por isso,
não tinha memórias do sucedido, para mim era como se tudo isto, que me tinham
acabado de contar, nunca tivesse acontecido.
Para que
tudo voltasse ao normal, tínhamos de voltar a pôr as mãos naquele relógio e
usar o tempo a nosso favor.
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