Num primeiro momento não percebi muito bem o que o meu irmão
queria dizer com aquilo. Pensei que estivesse a exagerar, o pai apenas tivesse
saído e estava a demorar um pouco mais. Mas, quando o vi num pranto,
percebi que o problema estava tudo menos relacionado com uma ida às compras
demorada.
Fazia uma semana que a minha mãe tinha viajado para ir a um
congresso de dentistas.
Ainda não tinha referido, mas a minha mãe é dentista.
Trabalha no consultório do senhor Jaime, um homem bastante conservador, com
graves problemas de visão. Sempre me interroguei como trataria ele dos seus
pacientes, e por isso, sempre me recusei a ser atendida por ele quando tinha
uma dor de dentes.
E nos últimos dois dias, tínhamos deixado de a conseguir
contactar. Não era nada que nos surpreendesse, uma vez que, a mãe tinha
comprado um telemóvel descartável para a viagem, que muitas das vezes não
durava muito. Tinha uma ideia fixa de que nunca iria comprar um telemóvel, logo, sujeitava-se aos descartáveis.
Com a minha azáfama com a casa ao lado, nem tinha reparado
que ainda não tinha visto o meu pai naquele dia. Procurei na casa toda por um bilhete, ou
algum tipo de recado, uma justificação para este desaparecimento repentino... Mas não havia nada!
É claro que o pai poderia ter saído mais cedo e ter-se
esquecido de nos avisar. Conhecendo o meu pai, posso dizer que muito
dificilmente ele faria algo do género, principalmente não estando a mãe em
casa.
Ficava agora a possibilidade de ter de passar a noite sozinha
em casa, com o meu irmão, sem notícias dos meus pais. E para agravar a
situação, com vizinhos suspeitos mesmo na casa ao lado.
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