Na manhã
seguinte decidi que não podia ficar de braços cruzados em casa, como se nada se
passasse, como se a minha vida decorresse na mais perfeita normalidade.
Fui à
polícia, expliquei toda a situação. Disseram-me que era cedo demais para
tirar conclusões e que o melhor era esperar. Mas, esperar pelo quê? Esperar que
o meu pai, ou o que sobrar dele, apareça em algum sítio, abandonado, após um
assalto que correu mal? Esperar que passem anos, e que as notícias sobre o seu
desaparecimento sejam, nenhumas?
Não ia
esperar.
Sempre tive
uma veia de detective, e como tal, meti na cabeça que, se o meu pai estava
desaparecido de certeza que podia arranjar alguma pista que me levasse ao seu
paradeiro.
Ninguém
desaparece como por magia, sem deixar rasto ou algum tipo de pista. Tem de
haver alguém, que o tenha visto naquele dia terrífico.
Comecei por
fazer uma pequena investigação mesmo ali, no bairro onde morávamos. O pai teve
de sair de casa, e ninguém melhor para saber as saídas e entradas de cada um
de nós, do que os nossos próprios vizinhos.
Para não
alarmar ninguém, é claro que não disse que ele estava desaparecido, disse
simplesmente que estava à sua procura porque a minha mãe tinha ligado. Assim,
podia saber, pelo menos, a última vez que o tinham visto.
Percorri a
vizinhança toda! Desde o António, que é um grande amigo do meu pai e que o
costumava ver todos os dias, até à senhora Dolores. O António disse que a
última vez que o tinha visto, tinha sido exactamente à dois dias, o dia antes
do seu desaparecimento. Mas, se havia alguém que podia saber as horas a que o
meu pai saiu naquele dia, esse alguém, era definitivamente a senhora Dolores.
Esta mulher,
já com os sessenta e muitos anos, ou como ela gosta de dizer, na flor da idade.
Todas as
semanas vai ao cabeleireiro e veste as roupas mais pirosas que eu já vi, o que
incluiu cores florescentes, que diz estarem na moda. Tem a casa cheia da sua
maior paixão: GATOS. Não posso afirmar o número destes adoráveis animais, mas posso
dizer que são às dezenas.
Ela passa a
maior parte do seu dia, o que inclui toda a manhã, sentada no seu alpendre,
rodeada pelos seus mais que tudo, a observar quem passa.
Por isso, de
certeza que ela teria visto o meu pai, ou pelo menos era o que eu pensava.
Assim, aproximei-me do alpendre onde a senhora Dolores passava o dia:
- Bom dia, senhora Dolores.
-Bom dia. Já viste os novos gatinhos, aqueles que nasceram ontem?
- Não, mas preciso de lhe perguntar uma coisa importante.
- Então se é assim tão urgente, pergunta.
- Gostava de se não viu o meu pai ultimamente.
- Não que eu veja sempre quem entra e sai, ou quem passa em frente à minha casa. Mas, por acaso, reparei que já há dois dias que nem o vejo passar.
Assim, aproximei-me do alpendre onde a senhora Dolores passava o dia:
- Bom dia, senhora Dolores.
-Bom dia. Já viste os novos gatinhos, aqueles que nasceram ontem?
- Não, mas preciso de lhe perguntar uma coisa importante.
- Então se é assim tão urgente, pergunta.
- Gostava de se não viu o meu pai ultimamente.
- Não que eu veja sempre quem entra e sai, ou quem passa em frente à minha casa. Mas, por acaso, reparei que já há dois dias que nem o vejo passar.
Depois de
percorrer todas as casas e de me sentir exausta e ficar sem esperanças, no
caminho para casa passei pela casa abandonada, recém ocupada, e decidi
experimentar. Não perdia nada em tentar, apesar de já nem me apetecer lá
voltar.
Quando
acabei de atravessar o jardim, agora muito mais limpo do que da última vez que
por lá passei (a dona da casa deve-se ter cansado do aspeto arrojado...), bati à porta. Quem me abriu a porta foi a senhora Bridget.
Perguntei-lhe o mesmo que aos restantes vizinhos, ao que ela me respondeu o mesmo que todos os outros. Mas, mesmo assim chamou o marido. Ao contrário de todas as outras pessoas
com quem tinha falado, este afirmou ter visto o meu pai pela última vez na
manhã do desaparecimento.
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