sábado, 21 de dezembro de 2013

Jardineira

Depois do que vi e ouvi na casa ao lado, tinha a certeza que tinha de lá voltar. O meu único problema seria saber como o iria fazer, uma vez que pedir simplesmente uma visita guiada deveria levantar desconfianças.
De qualquer das maneiras, mesmo que não descobrisse nada estupidamente estranho, de certeza que, uma casa que passou por tantas épocas deveria ser ótima para explorar.
Podia simplesmente esquecer o assunto e voltar à derradeira rotina mas, o meu espírito de aventura e a minha capacidade de me colocar em embrulhadas, falou definitivamente mais alto.
Passei por volta de dois dias a pensar em ideias mirabolantes e planos engenhosos. Estes passavam por entrar pela janela a meio da noite (o que não me pareceu muito seguro), ou até mesmo, entrar infiltrada fingindo que era uma parente afastada que nunca haviam visto (sim, esta última não foi das melhores…).
Por fim, lembrei-me de como os meus pais faziam questão que trabalhasse no Verão, mesmo que fosse sem receber nada… E como os donos da casa estavam em mudanças, pensei oferecer os meus serviços como jardineira. Não que fosse uma profissional, mas às vezes, uma das minhas tarefas é cortar a relva do nosso jardim, e apesar do jardim deles dar muito mais trabalho do que o meu, o importante era ter a oportunidade de entrar na casa, o resto depois arranjava-se.
Vesti as minhas jardineiras de ganga, para ter um ar mais adequado à tarefa, e comecei a descer as escadas o mais rápido que pude. A minha missão não podia esperar!
Atravessei o jardim da frente a correr, bati à porta. A senhora Bridget abriu a porta, e disse, um pouco ofegante por causa da correria:
- Olá, gostava de poder ajudá-los a arranjar o vosso jardim, sou uma jardineira com bastante experiência, corto a relva do meu jardim sempre que me compete.
Ao que ela respondeu, de forma muito rápida:
- Por agora vou dispensar os seus serviços, gosto do jardim com este aspeto mais arrojado, mas se algum dia precisar será a primeira pessoa que vou contactar.
É claro que fiquei bastante desiludida por isso, agradeci e regressei imediatamente a casa, não com o mesmo ritmo com que saí, as aulas de ginástica estavam a fazer-me falta. A desculpa não foi das melhores, acho que em vez de querer um jardim arrojado, não deve ter gostado foi da minha maneira arrojada de abordar a questão. Mas, não a posso criticar, nem toda a gente consegue reconhecer um bom negócio quando este aparece.
Estava quase a bater com a porta, quando o meu irmão aparece de repente. Pensei que me ia chatear com alguma séria televisiva, que por alguma razão, que a própria razão desconhece, não tinha passado hoje na televisão. Mas não. O pai tinha desaparecido!

Sem comentários:

Enviar um comentário