Pela reação
da minha mãe, mas principalmente do meu irmão, que estava tão preocupado com o
pai, reparei que a chegada do pai não lhes tinha causado qualquer surpresa.
Como num dia normal, a minha mãe perguntou-lhe como tinha sido o seu dia e logo
de seguida voltou para a cozinha. Depois, decorreu o habitual ritual, em que o
pai tenta que o meu irmão pare de ver televisão, para ir dar um passei ou jogar
futebol, que acaba sempre da mesma forma: com os dois a ver televisão até à
hora de jantar.
Sentia-me
feliz. O pai tinha voltado, assim como a normalidade, algo que ansiava há
vários dias. Não me lembro era de trocar a normalidade da minha família, pelo
meu novo estado de invisibilidade. Como se costuma dizer: nem tudo na vida é
perfeito; mas isto é abusar!
Voltei para
o meu quarto e, qual não é o meu espanto, que ao entrar no quarto já não era
meu. Ou melhor, o meu quarto estava agora transformado numa espécie de sala de
arrumos, onde conseguia identificar os velhos brinquedos do meu irmão, as
roupas de inverno e uma velha televisão, que nem sabia que ainda existia. A única
parte, que no meio do amontoado de objectos, me fazia lembrar o meu velho
quarto eram as paredes, continuavam com a mesma cor amarelo-torrado que sempre
detestei.
A partir
daquele momento, percebi que para eles, era como se eu nunca tivesse existido.
Como se o meu irmão fosse filho único, o que não deveria ser fácil de suportar.
Como se o dia do meu nascimento tivesse sido apagado por completo da história
da humanidade, ou pelo menos desta família…
Duvido que
alguém fosse capaz de se contentar com a sua inexistência. Por isso, eu não
iria ser a primeira, tinha de sair de solucionar o problema, e o mais rápido
possível.
Quando fui à
casa ao lado perguntar pelo meu pai desaparecido, em princípio estava tudo bem,
até me ajudaram. Se o problema começou, só pode ter sido depois disso, ou melhor,
durante a visita…
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