sábado, 28 de dezembro de 2013

Troca de normalidade por invisibilidade

Pela reação da minha mãe, mas principalmente do meu irmão, que estava tão preocupado com o pai, reparei que a chegada do pai não lhes tinha causado qualquer surpresa. Como num dia normal, a minha mãe perguntou-lhe como tinha sido o seu dia e logo de seguida voltou para a cozinha. Depois, decorreu o habitual ritual, em que o pai tenta que o meu irmão pare de ver televisão, para ir dar um passei ou jogar futebol, que acaba sempre da mesma forma: com os dois a ver televisão até à hora de jantar.
Sentia-me feliz. O pai tinha voltado, assim como a normalidade, algo que ansiava há vários dias. Não me lembro era de trocar a normalidade da minha família, pelo meu novo estado de invisibilidade. Como se costuma dizer: nem tudo na vida é perfeito; mas isto é abusar!
Voltei para o meu quarto e, qual não é o meu espanto, que ao entrar no quarto já não era meu. Ou melhor, o meu quarto estava agora transformado numa espécie de sala de arrumos, onde conseguia identificar os velhos brinquedos do meu irmão, as roupas de inverno e uma velha televisão, que nem sabia que ainda existia. A única parte, que no meio do amontoado de objectos, me fazia lembrar o meu velho quarto eram as paredes, continuavam com a mesma cor amarelo-torrado que sempre detestei.
A partir daquele momento, percebi que para eles, era como se eu nunca tivesse existido. Como se o meu irmão fosse filho único, o que não deveria ser fácil de suportar. Como se o dia do meu nascimento tivesse sido apagado por completo da história da humanidade, ou pelo menos desta família…
Duvido que alguém fosse capaz de se contentar com a sua inexistência. Por isso, eu não iria ser a primeira, tinha de sair de solucionar o problema, e o mais rápido possível.

Quando fui à casa ao lado perguntar pelo meu pai desaparecido, em princípio estava tudo bem, até me ajudaram. Se o problema começou, só pode ter sido depois disso, ou melhor, durante a visita…

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